30 de out. de 2013

Tristeza

Já dizia Mario Quintana:
“A vida é breve,
E o amor, mais breve ainda...”
Se a vida não for um romance,
Ela irá passar por passar...

Ao se tentar,
Vive-se um tênue relance
Um breve amar
Que rápido se esvai
Leviano, trai
e...
Sobra pouco
Sobra incerteza
Sobra solidão
Sobra tristeza
Pobre coração...

(Adendum: Hoje ocorreu a visualização número 1984 do meu blog. O mesmo nome do fantástico magnum opus de George Orwell.)

24 de set. de 2013

O coração ficou cinzento

Não há poesia que mude o sentir
E de nada adianta lutar em vão:
Não há nada que possa ferir
O pobre e indefeso coração
Mais do que as frias palavras
Sempre amargas
Que matam e morrem
E assim consomem
O que poderia ser amor
Mas que se transformou em dor
Assim sendo, não amou, e morreu
E o coração? A batalha perdeu...
Pois não há amor quando apenas um ama
É muito pra um só, que, então, o derrama...
... E transborda seu sentimento
Matando todo o contentamento...
E tratando com unguento
Um coração que ficou cinzento...
(Cinzento, sozinho e sonolento...)

(é a última poesia que postarei com métrica tão descomposta. Esse é um estilo que nunca me agradou. Hei de lapidar mais avidamente as próximas poesias a serem compartilhadas.)

14 de set. de 2013

Longínquo

Perto de ti, sou feliz
Longe, infeliz
Solidão que construí
Decisão que decidi
É tudo culpa minha
Sozinho nessa caminha
Desenhando uns desenhos
Fitando uns desenhos
Que pendem na parede
Que matam a tênue sede
De ficar longe de ti
De tanto pensar em ti
Vivendo sem andamento
Tu, apenas no pensamento
Sem muita certeza
Sem muita firmeza
Medo de quê? Pergunto
Eu sei – de ficar junto
Entendo que minhas súplicas
Tenham-se tornado múltiplas
Entendo esses teus medos
De criar novos segredos
Com alguém que a quer amar
E que não iria a desapontar
Que a faria feliz muito além
Contra tudo que provêm
Da alegria do amante derradeiro
Que vive um amor verdadeiro
Que vê nos olhos do seu amor
A razão pela qual lhe deu a flor
Que criou desde semente
Que aqueceu com a chama ardente
Da mais bela estrela cadente
Que colheu do céu benevolente

Com alguém
Que aguarda por alguém
Sozinho, sem ninguém...

1 de set. de 2013

Minha Vida

Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso.. de um gesto.. um olhar...

                                               Mario Quintana

(Segunda poesia de outros poetas que posto. Essa é, para mim, uma das melhores descrições da dor de amor que sente o amante desafortunado.)

31 de ago. de 2013

PT 3º - Então, desliguei...

Eu tentei discernir ...
Se ela iria chorar...
Sorri ao vê-la sorrir,
Não pude ignorar:

Que podia ter fim a dor
Desta realidade metafísica!
E tudo ganhou mais cor;
Os ventos ganharam mais música.

E, antes que fosse falar de amor...
Decidi que devia desligar...
Porque era cedo. Precipitado.

Porque era... De fato, amor.
Mas não era hora. Esperar.
Que o poema fique guardado...

20 de ago. de 2013

O nosso maestro

As coisas perderam a graça
As cores perderam a cor
Da carne, resta o osso
Do coração, meio amor

Das cores que antes via;
Restou-lhe o preto e branco.
Da vida que antes vivia;
Restou-lhe um livro e um banco;

Vivendo-se sem viver,
Morre-se pouco a pouco.
Neste agitado mar de emoção
Onde não há nada a se ver;
Afora esse maestro louco
Que se chama coração.

15 de ago. de 2013

Estudo Para Piano, Op 10 Nº3, Fredérik Chopin


         "[..]Ele estava estupefato, tanto com sua beleza quanto pelo fato de terem abandonado totalmente a rota. Aquilo era suficiente para lhe demitirem por justa causa. O que aquela mulher poderia pedir?!
                -M-Mas... Isso é errado... Estamos fora da rota, o Coordenador vai ligar e... E... –Ela estava com o dedo indicador sobre os lábios, sibilando baixinho.
                -Você se importa com isso tudo? Com seu emprego? Com o velho porco que lhe mandou e desmandou por anos da sua vida infeliz? Não somos escravos de ninguém. Vem, Marcos. –Ele levantou do banco, e Natália o puxou pela mão. Ela o conduziu gentilmente até o parapeito do mirante, e lá ficaram por alguns instantes, fitando as luzes da cidade e o céu estrelado.
                -Você devia ter trazido seu piano, Marcos. Queria ouvir Chopin à luz dessas estrelas. Era um dos meus sonhos, para ser sincera. Alguém tocasse para mim.-Ela apertou a mão dele, se aproximando. –Alguém que me mostrasse o significado de viver.
                A confusão que tomara os pensamentos do pobre homem se tornou indescritível, mas, ao toque das mãos, tudo passou, e agora sentia como se uma velha amante lhe dirigisse os mais belos versos.
                -Queria poder tê-lo aqui, Natália. Você poderia, então, ouvir minha Tristeza. –Disse, referindo-se ao 10º estudo para piano de Chopin.
                -Seria um sonho. Você não sente nada? Aqui, nessa situação.
                -Eu... Não sei. Não sei. –Repetiu, envergonhando-se por suas dificuldades de dicção.
                Ela virou o rosto de maneira a olha-lo nos olhos. Ele sentiu, então, algo novo. Uma velha barreira, que sempre permeou seu viver, acabara de cair: podia se expressar livremente, aquém das experiências traumáticas de outrora. Podia ser ele mesmo, podia lhe falar abertamente.
                -Tu estas comigo, Marcos. Estou aqui para te fazer vivo outra vez. Para te fazer sorrir nesse mar de águas turvas que é o viver. –Ela desviou os olhos, passando a observar os arranha-céus a quilômetros de distância. –Sei que você sempre sentiu falta de algo.[...]"

(caso alguém queria ler o conto completo, contate-me)

27 de jul. de 2013

Tomando café numa tarde de quinta

Ontem eu vivi um dos sonhos
Onde não haviam avarias...
Apenas tenros rostos risonhos
E o doce toque das mãos frias...

Agora como pão com presunto
E saboreio o café que minha mãe fez
E, entre suspiros, me pergunto
Se jogaremos truco outra vez...

13 de jul. de 2013

Never trust a yellow bird

He never thought birds could send messages.

After some advices from a friend who used to take care of specially trained birds, he started to train his own bird. He went to the local park and started to throw some popcorns on the ground near the place he was planning to sit on. After two hours of endless waiting, he finally caught a bird the was about to fly with a little piece of popcorn.

He didn't knew what was the bird's genre, he only knew it was yellow. He went home visibly satisfied.

In the next day, he started trainning the bird. He tried to teach him to go from one place to another. It would be pretty easy, according to his bird-specialist friend. The only thing he would have to teach to the bird would be how to know where his wings are going to. He started with a simple route from the bedroom to the kitchen, using some popcorn as bait. At first it didn't went well, mostly because the bird wasn't wanting to fly. He tried  using every kind of food as bait: rice, beans, bananas, french fries, Coke, and even a McBurger. The fucking bird didn't moved his wings a single inch. He decided to talk to the bird. He explained to the bird why did he choose him as a messenger. The bird seemed touched, and decided to colaborate.

The bird flew perfectly, from the bedroom to the kitchen.

After some weeks, the bird was finally able to fly from one house to another two blocks away. The guy decided that it was time. The bird was ready to follow his contend.

He wrote a letter with twenty and two lines. He had put all his feelings in the letter. It was meant to be read by his beloved girl. He doubled it as a tube, and attached it to the bird's right leg. Then, he told to the bird where he would have to go. The bird agreed, and made de promisse  that would do the path exactly as described.

Some minutes after, the bird went out of the house and flew to his freedom.

The yellow bird didn't gave a fuck to the Guy's feels, all he wanted was to be free.

Thats how ended up the story: A free bird free-flying around again, a guy that never told his beloved girl how much he loved her, and a girl that would never knew how much someone has loved her.

12 de jul. de 2013

PT 2º-hope

I've done my best
I've tied them all with a rope
till then I'll just rest
hoping you give me hope

1 de jul. de 2013

Cartas tristes

        Ela morava em algum prédio do centro histórico de Porto Alegre. O dia havia sido exaustivo, e imagens de um sofá confortável e alguns bons filmes idealizavam a definição perfeita de paraíso. Ela optou por não tomar banho, e sentou-se ao sofá, deixando que as tensões e estresses do cotidiano pudessem evaporar, deixando apenas a boa carcaça cansada estirada embaixo de grossos edredons. Mas algo chamou sua atenção: havia uma carta embaixo da porta, que ela provavelmente pisara ao entrar, sem ao menos notar. Ela estranhou, mas a abriu e, como o texto parecia longo, sentou-se para lê-lo.

A caligrafia, embora legível, era sensivelmente afetada por algum tipo de tremedeira; e, aparentemente, o texto devia ter sido escrito com esmero calculado. Acompanhavam os dizeres:

“Boa noite, moça. Ou bom dia, depende, nunca se sabe quando hão de lhe entregar esse papel ou quando você há de lê-lo. De qualquer maneira, venho me despedir.

Desde que a vi pela primeira vez - naquele ônibus, naqueles dias infernais de aulas inúteis, em meio àquele rebanho de rostos estranhos – que seu rosto diferia dos demais. Por meses a idealizei, até que finalmente pude lhe dirigir a palavra. Pode ter sido um erro; mas não me arrependo. Tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais encantadoras desde que minhas lembranças se avivam.

Eu poderia te fazer a pessoa mais feliz do mundo, se você quisesse. Poderia lhe proporcionar as alegrias que você sempre sonhou; e iria além, até o limite indefinido das contendas que lhe fariam jus. Lhe escreveria poemas, lhe comporia sinfonias, criaria desde a semente as rosas que um dia pertencer-te-iam.  Daria meu suor para te ver feliz, sorrindo e radiante. Nada menos do que aquilo que você merece.

No inicio falei sobre despedida, e, na verdade, é sobre isso que se trata essa dissertação. Não hei de criar ilusões, paradigmas ou me ater a contendas incertas. Seguirei meu caminho, apenas.

Em algum lugar, eu estarei divagando por entre ruelas de velhas cidades históricas, brincando de escrever sobre aquilo que vejo e sinto, sobre como os ventos ditam os rumos de nossas vidas e sobre como o sol se põe mais cedo para alguns. Coisas da vida, apenas.


Até.”

30 de jun. de 2013

Aquilo que nos faz escrever pior ainda

Sentir brotar novamente a paixão é algo muito hard, em diversos aspectos. Talvez a influência mais notável desta situação irracional - a que nos submetemos procrastinadamente de tempos em tempos - seja na escrita (partindo do pressuposto de que o indivíduo escreva por hobbie, o que limita a abrangência dessa pseudo-crônica a 1/20 da população mundial, senão menos).

Admiro os grandes poetas que, defronte à paixão, terminam por produzir suas obras-primas. É para poucos a capacidade de canalizar um sentimento de tal magnitude e o converter em arte magna. Então, aqui me refiro aos escritores mundanos, que não verdadeiramente escrevem, mas sim mancham folhas de celulose com suas palavras insípidas e monótonas.

De qualquer maneira, a paixão destrói nossa parca capacidade literária. É fato. Sempre que nos apaixonamos, perdemos o senso do ridículo, nos atemos a dissertar sobre o sentir, sem siso algum. Não nos preocupamos com a empatia da obra, pois, na verdade, não nos preocupamos com merda nenhuma. Deixamos que as palavras desandem em meio a folhas e folhas de riminhas rasas e fofas. Não estamos concentrados na arte da literatura, estamos concentrados no rosto de alguém. Não estamos preocupados com a musicalidade das estrofes, com a métrica dos versos ou com a qualidade das rimas; pois nossa mente divaga a relembrar - segundo após segundo - os trejeitos da Pessoa. Escrevemos a esmo, como se fosse a cura do buraco que fica no nosso peito quando nos afastamos fisicamente da Pessoa. Em contrapartida, quando estamos juntos d’ela, esquecemos que um dia aprendemos a escrever. A paixão faz dessas coisas. E, ao fim de tudo, quem sofre são as próprias palavras.

Antes elas do que nós. Que sejamos felizes, enquanto elas definham como algum verso bonachão de música sertaneja.

E que elas definhem, pois isso é muito bom (Se apaixonar, no caso. Meus pêsames às palavras versadas). Como diria algum provérbio mundano dessa internet profana: “Viver sem frio na barriga não é viver”.

28 de jun. de 2013

PT 1º- O poema de uma dessas tardes

ele queria poder abraçá-la,
recolher todo seu pranto
botar tudo numa caixinha
e atirar do barranco

para nunca mais voltar
esta angústia, este desprazer
de viver a desandar
sem a alegria do viver.

ele queria poder tentar
ser o fim de seus problemas
agora, só lhe resta esperar
tecendo mais alguns poemas...

(PT-Série de poemas sem edição, nem tempo produção: são fruto de emoções do próprio autor que, afetado por elas, termina por dissertar sobre seu sentir de maneira ortograficamente/semanticamente/morfologicamente duvidosa, embora sincera.)

23 de jun. de 2013

O mais velho dos poemas

Vim sendo tristeza,
Vim sendo uma mentirinha.
Vim sendo incerteza,
Que ao fim de tudo definha.

Até que a morte nos separe.
Até que as cores percam a cor.
Até que o tempo nos ampare...
Nestas dancinhas de horror.

Divaga entre as corjas de sãos.
Sem eixo, gira, a entreter a razão.
Arrancaram-lhe ambas as mãos
Partiram em dois seu coração.



22 de jun. de 2013

Os ônibus e as probabilidades

Seu primeiro sentimento da semana não poderia ter sido mais enérgico: Sentiu um ódio repentino pelo som do despertador, que emulava a sirene de um complexo nuclear. O despertador era um aplicativo do seu dispendioso tablet – único fator que o impedia de, de fato, parti-lo ao meio. Era seu segundo dia na universidade, e ele já criara um ódio profundo em acordar junto ao sol.
          Ao pôr os pés no chão, em questão de minutos já caminhava com seu velho par de All Stars, rumo à parada de ônibus. Pouco mais de uma hora, subia escadarias que o levariam à sua sala de aula. Ele ainda não era um universitário, pois tomara parte em uma espécie de curso preparatório para estudantes “menos aptos”.  Não que de fato o fosse, mas sentia que necessitava de conhecer essa tão falada vida de estudante – até agora decepcionante. Ao subir as escadas, já admirava a bela combinação do campus: prédios sólidos; fauna variada, sicômoros e figueiras entrelaçadas por líquenes e trepadeiras; e, como toque final, uma casta inteira de jovens de subgêneros variados: do punk extremo ao hippie duvidoso.
      Ele se sentia bem em meio a essa corja pouco convencional, e, como sempre fora relativamente atípico, se sentia relativamente em casa. Afora a matemática excessiva que passara a presenciar e idolatrar, tudo lhe agradava muito.
          Ao término da segunda aula, estava esgotado. Seu professor demonstrava sinais sensíveis de Asperger, marcados pelo grande intelecto e pela pouca capacidade de interagir psicoativamente. Era um poço fechado de conhecimento. Seus colegas compartilhavam essa sensação, o que refletia na velocidade com que a sala da aula esvaziara-se.
           Agora figurava na parada, esperando pela locomoção ao som de Bethoven. A décima quarta Sonata para piano estava no meio do segundo movimento quando notou que seu ônibus já estava disponível, e correu para garantir seu assento. Existe um momento de limbo entre pagar a passagem e atravessar a roleta, um momento de êxtase estático onde é difícil se dar por conta do que acontece na transição de pedestre para passageiro. Tudo o que ele sabe é que, ao se recuperar, teve seus olhos desviados para alguma entidade de óculos, ao fundo ônibus.
       Era uma garota aparentemente comum, pele clara e cabelo longo. Devia estar no mesmo estado de pseudo-estudante que ele. Ele tentou desviar o olhar, mas sentia como se algum tipo de magnetosfera agisse naquele momento. Acabou se aproximando dela, e, quando se deu por conta, estava a ponto de sentar ao seu lado. Ele até o teria feito, se ela não tivesse optado por acomodar-se no banco do corredor. Ele não conseguiria dirigir-lhe a palavra para pedir passagem, então, com o raciocínio lógico comprometido, optou por sentar-se na fileira de bancos à sua frente.
O terceiro movimento da sonata de Bethoven tinha acabado de começar, e ele foi pego de sobressalto por seus enérgicos arpejos. Ele diminui o volume, e trocou de faixa. Não sentia tal euforia, e optou por Sonho de Amor, do Liszt. Com todas suas forças, tentou se focar na melodia e nos passantes da calçada. Não pôde. A imagem da garota de óculos permeava seus acordes, desafinando seus violinos e desencontrando seus percursionistas.
Ele precisava agir. Teve sucesso em lançar alguns olhares periféricos desenxabidos, e pôde admirar parcialmente sua beleza. Acabou cometendo o erro de observá-la pro tempo demasiado, e seus olhos terminaram por encontrarem-se. Ele corou profundamente, e não mais arriscou olhares tão diretos; limitou-se ao reflexo do visor do seu velho celular. Então lhe veio a hipótese de lhe falar. Como não pensara nisso antes?! Poderia quebrar o gelo com qualquer bobagem minimalista do dia a dia, bastava a coragem para que suas cordas vocais vibrassem e criassem ondas sonoras de comprimento suficientemente largas para que se tornassem audíveis. É tudo uma questão de física ondulatória, onde a altura da sua voz seria proporcional à intensidade da vibração de suas cordas vocais.
Nunca fora tão difícil fazê-lo. Seguiu num silêncio contemplador, deixando que sua sina fosse carregada pelas correntes oceânicas.
A linha do ônibus terminava em uma grande estação,  que servia como referência para diversas outras linhas.  Desceram quase que simultaneamente, e seguiram juntos até certa parte da estação, onde se separaram, pois ele tinha um destino; e ela, outro. Ele havia passado por Mozart, Schumann e até Chopin; mas as feições da moça insistiam em se materializarem no seu subconsciente, lhe pegando de surpresa.
E assim se seguiram as próximas horas. Teria sido aquilo amor à primeira vista? Ele não sabia. Sabia que ela era linda, que devia ser inteligente e que usava óculos. Sabia que as probabilidades que havia os posto no mesmo ônibus – a centímetros de distância um do outro – eram ínfimas; e que, embora tentasse negligenciar esta verdade, dificilmente voltariam a se ver. Dificilmente voltaria a corar quando seus olhos se encontrassem, e sentia que ela continuaria a desafinar suas sinfonias por dias.
        Culpou a si mesmo por não ter iniciado a conversa, assim como culpou as probabilidades matemáticas que regem nosso universo por ter-lhe posto de fronte a alguém tão marcante, ao mesmo tempo tão inacessível.
      Voltaria a vê-la? Era incerto. Ele não possuia palavras para descrever o que sentia. É justamente quando falham as palavras que a música entra em cena. Enquanto ouvia Villa-lobos chorar, rezou às probabilidades.

13 de jun. de 2013

Hopes and fears

"She told him to wait, to keep himself patient. Will it be worth it? He don't know, but he hopes to discover."

Now he sings to the emptyness 
Plays with his past mistakes...
Blames no one for his lonelyness
Only his unfortunate stakes.

Trying to be patient as a bear...
Trying to be cold as white snow...
He slowly exposes his fear
Of loosing things he don't know.

He just stares from the fence
Jumps, trying to see.
Lonely, from far observes.

Only awaiting for the chance
To proof that he can be
The guy that she deserves.

9 de jun. de 2013

The guy running in the park

He was running the whole morning. Thats what he likes to do when his problems go above his capacities. He's not that strong, and even if everyone likes to tell him otherwise, he knows his limitations. He knows when to stop, breath and think clearly.

He was very, very tired. He had no breath to give just one more step. Then he sat down on the grass, thinking of his experiences. He had never been lucky, and, once again, was in the same dead end. He could not stop blaming himself, because there was no better comfort at a time like this. "I'm late." She could be a perfect girl, but she wouldn't be the perfect one for him. He would have to live with this pain: It would have to live with the fact that now she is perfect to another one. He arrived late. A year late. Enough to lose her, without even imagine before that she has existed.

So he stood up, heating his body, shaking his muscles slightly, and returned to his exercise to finish up his daily running schedule. He's not unhappy, he's just tired and disappointed. He never thought that the posibility of going through all this maelstrom again could be so eminent. He never thought that, for some reason, destiny would came with a stranger to match his routine, and, besides this, choose the most perfect stranger that he would never expect to one day meet.

He kept his life. Slashing shadows with swords of shadows and painting his life with shades of black and white. Maybe he's tired. Maybe he's just disappointed. Maybe he's  dead, since his life walks to this constant dead end. And the poor guy struggles on.

Grandezas

Há tempos deixei de viver como um vetor. Quem sabe se houvesse um sinal que me desse direção e sentido... Porquanto, divago como uma grandeza escalar.

6 de jun. de 2013

Um absurdo descabido

Venho apercebendo, através de diversos meios, que as pessoas em geral valorizam muito mais os textos – crônicas, artigos, “essays”, entre outros, diga-se de passagem – em detrimento da poesia. Isso é um absurdo, uma tolice, uma blasfêmia inconcebível a qualquer amante das letras. As palavras de um texto são simplórias, desprovidas de qualquer subjetividade que as torne interessantes ou instigantes.

Nos versos, isso muda. Simples palavras adquirem um número infinito de significados e propósitos, que são determinados pelo contexto em que se insere cada leitor.

Essa é a grande sacada da palavra versada; isso que a difere do simples ser, e dá-lhe nova tipagem, causando enleio aos bons leitores que divagam boquiabertos após uma boa rima.


A poesia é a vida do nosso planeta, o sangue do nosso corpo, os felizes desencontros do nosso dia a dia. É como a música clássica, que, como arte magna em seu meio, figura no topo da cadeia alimentar em termos de complexidade e capacidade de emocionar. Tristemente, sua beleza é vista por poucos. Felizes poucos.

I could

I could write you a poem, if you wanted to.
I could compose you a song, if you wanted to.
I could make a drawing for you, if you wanted to.
But you don't want. Left my poems, harmony notes,
beautiful songs, cutest drawings and others, to the wind.

2 de jun. de 2013

Autopsicografia

Nunca antes postei aqui poesias que não fossem de minha autoria. Mas faz-se exceção à melhor descrição já feita acerca dos viveres de um poeta. Talvez uma das poesias mais geniais de F. Pessoa. Há quem discorde, mas acredito que nunca antes, tanto quanto nunca mais, um poeta há de sentir-se tão bem retratado.


O poeta é um fingidor.
E finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Nãos as duas que ele teve
Mas só a que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

                           Fernando Pessoa, Lisboa, 1915.

Probabilidades

-Sete bilhões de indivíduos andantes acerca do globo... Há quase um pra cada quilômetro quadrado. – Dizia o garoto, com o rosto contra a mesa de mogno. – E me vejo pleiteando o inacessível.
O Pai lhe conferia afagos periódicos, e, entre múrmuros e sussurros inaudíveis, disse:
-Essas coisas a gente não escolhe, menino. São como fatalidades. Sâo tão imprevisíveis quanto a morte. Você pode morrer ao sair pra ir pra aula, assim como se apaixonar no caminho de volta.
-Já estou apaixonado, pai. Isso é certeza; enquanto a morte, possiblidade remota.
Ouvindo tais palavras, o Pai suspirou. Não devia tê-lo deixado ler tantos livros.

27 de mai. de 2013

A poesia do poeta morto

Sem nada a fazer,
Sem nada a decidir,
Não pude descrever
O mais puro sentir.

Pois nada senti
Afora o desprazer
De nada decidir
E, assim, sofrer!

Confortando-me, morri;
Pois não pude lhe falar
Que nunca antes aprendi
As nuances do amar.

Continua-se, então,
Este eterno vestibular.
Questão por questão
Só me resta estudar.

Estudando como um zumbi,
Um dia hei de encontrar:
A definição do que senti -
E o significado desse tal “amar”.

26 de mai. de 2013

Novos ares


No ônibus, os mesmos rostos.
Por todo o lado, a triste burguesia.
Até o advento de novos ventos:
Fizeram brotar novamente a poesia.

Às tardes, um novo gosto.
Ao viver, nem imaginas:
Vento no rosto, vento disposto
Novos ares a novas rimas.

23 de mai. de 2013

I'd marry you

"I'd marry you, since the first time we talked
Since the first time i've seen you walkin' in your blue Low Sneakers
I'd marry you, I've said
Maybe not today,
Maybe any other day..."

22 de mai. de 2013

A Disco Ball


-“Quantas cores você enxerga no anteparo, aqui, após a cortina? Garoto.”-Disse a doutora, afastando o paninho que obscurecia a luminescência reflexiva da disco ball.
-“Preto e branco, doutora.”-Disse o jovem, lacônico e indiferente.
-“Você tem miopia, garoto.”
-“Mas... Eu costumava ver cores, há anos atrás.”-Replicou o jovem, ainda indiferente. Sua fisionomia era fraca; com olheiras fundas; e a pele, esbranquiçada, como se todo seu conjunto fosse resultado de uma maçante jornada intelectual forçada.
-“Eu também, garoto. Nossa doença? Somos suicidas. Todos nós, exceto alguns poucos reacionários que, conscientes desta degradação social irreversível, escapam das garras da frígida realidade a que somos dispostos."
A doutora sentou-se na mesinha ridiculamente pequena, passando a rabiscar a ficha do paciente atual, movimentando a caneta em gestos maquinários.
O garoto já tinha saído da sala. Na verdade, já saia do hospital. Já tinha ouvido o bastante. Estava morto, pois não podia ver cores.

4 de mai. de 2013

Amor de Engenheiro...


Ela é tão humana, eu, tão exato..
ela faz jornalismo, eu, engenharia;
ao vê-la, esqueço qualquer cálculo...
Me sinto Quintana, ao ver sua Cecília.
"Impossivel", dizem os errantes...
improvável, o maior dos absurdos
Que dois mundos tão distantes
possam, um dia, terminar juntos.
Terminam-se, então, as rimas...
isto é além da minha capacidade.
Restam-me equaçoes indecisas,
amor em cálculos de probabilidade.
Neste silêncio desconfortável
enuncio, então, a questão:
Você quer ser a variável
que falta na minha equação?

3 de abr. de 2013

O que falta?


O que falta para todos serem felizes?

Falta mais corações se entregarem ao amor.
Falta mais desapego ao horário.
Falta mais desapego ao velho fervor
de viver-se em busca do salário... 

1 de abr. de 2013

Os Olhos do Poeta


            Tenho um amigo chamado Eduardo. Ele é um quase-poeta, amante verdadeiro da poesia. É o tipo de indivíduo que vê poesia nas coisas mundanas e insossas aos olhos dos passantes mundanos.
            Uma vez ele se apaixonou por uma “funkeira” arquetípica, Juliana; ou Ju, para os mais íntimos; ou até Ju Barte para os frequentadores dos mesmos ambientes da moça.
 Ela não inspirava nenhum Soneto de Fidelidade. Não inspirava nem mesmo um haicai pós-modernista. Usava roupas de liquidação, de número menor que seu manequim, possibilitando que alguns excessos se tornassem visíveis. Não que a vestimenta do indivíduo determine sua personalidade, mas, na grande maioria das vezes, dá indícios certeiros de suas nuances.
Lembro d’ele ter escrito um soneto à pretendida, que, dentro de suas possibilidades, ficou esplêndido. Versos decassílabos, perfeitamente métricos; e rimas ricas, quase parnasianas, só que objetivas.
Eram tempos obscuros. O Orkut reinava, e Eduardo dedicou a ode à sua paixão pelo meio que imperava no período: depoimento, ou “depô”.  A homenageada nunca o leu, pois achou cafona e “chato” ( termo comunmente empregado por trogloditas em face a algo novo, de beleza naturalmente complexa, ou seja, que exija esforço por parte da massa cinzenta).
Eduardo não se deixou abater, e continuou fielmente em sua contenda por meses a fio, tricotando sonetos cada vez mais complexos para exaltar sua paixão platônica.
Até ter seu coração partido.
Mas ele continuou poeta. Ainda vê poesia nos casais de pombas que compartilham a pipoca da senhora idosa, enquanto espera o ônibus. Ainda vê poesia no namoro das figueiras, em frente a sua casa. Ainda vê poesia na compaixão da tia Zilda, cobradora da linha Assis Brasil-Centro, que recebe todos os  passageiros indiferentes com seu sorriso largo e espontâneo. Ainda vê poesia no modo como sua avó sexagenária trata seu avô moribundo. Ainda vê poesia nos prédios antigos que vislumbra à janela do ônibus, no caminho para do trabalho, no centro de Porto Alegre. Ainda vê poesia na dança das luzes que ocorre diariamente nos engarrafamentos de fim de tarde, na Avenida Assis Brasil. Ainda vê poesia no modo como sua irmã caminha, passo por passo, como se cada nova pisada fosse uma conquista.
Ainda vê poesia nas coisas.
Ele vê essa poesia pois é apaixonado pela vida, aceitando sua perfeição natural, sem se apegar ao inalcançável; e sim apreciar aquilo que lhe é permitido apreciar.
Pois a poesia está nos olhos do apaixonado.  

31 de mar. de 2013

Usei-a bem, até agora.


                Sempre prezei pela subjetividade. Sempre considerei-a minha guia espiritual na arte de embaralhar o explícito e torná-lo enigmático, misterioso, apetitoso. Agora não ela não me é mais tão venerada. Ó subjetividade, meu talismã dourado, revogo tua presteza, pois não mais anseio por embaralhar cubos mágicos de palavras e sentimentos; e sim explicitá-los em abraços e carinhos.

30 de mar. de 2013

Quase-declaração



Felizes sao aqueles
que ouzaram proferir
três palavras simples
capazes de inferir...

Tudo aquilo que se tranca,
tudo aquilo que se guarda.
Tudo aquilo que nos afaga
esta tristeza tao amarga.

Se feliz é aquele que o disse,
feliz hei de dançar
Pois o coraçao agora se abriga
em terno novo lar.

Pois o teu lado me aconchego,
ao teu lado tenho paz...
Sou tão feliz e pleno
como nunca seria capaz.