Ela morava em algum prédio do centro histórico de Porto Alegre.
O dia havia sido exaustivo, e imagens de um sofá confortável e alguns bons
filmes idealizavam a definição perfeita de paraíso. Ela optou por não tomar
banho, e sentou-se ao sofá, deixando que as tensões e estresses do cotidiano
pudessem evaporar, deixando apenas a boa carcaça cansada estirada embaixo de
grossos edredons. Mas algo chamou sua atenção: havia uma carta embaixo da
porta, que ela provavelmente pisara ao entrar, sem ao menos notar. Ela
estranhou, mas a abriu e, como o texto parecia longo, sentou-se para lê-lo.
A caligrafia, embora legível, era
sensivelmente afetada por algum tipo de tremedeira; e, aparentemente, o texto
devia ter sido escrito com esmero calculado. Acompanhavam os dizeres:
“Boa noite, moça. Ou bom dia,
depende, nunca se sabe quando hão de lhe entregar esse papel ou quando você há
de lê-lo. De qualquer maneira, venho me despedir.
Desde que a vi pela primeira vez
- naquele ônibus, naqueles dias infernais de aulas inúteis, em meio àquele
rebanho de rostos estranhos – que seu rosto diferia dos demais. Por meses a
idealizei, até que finalmente pude lhe dirigir a palavra. Pode ter sido um
erro; mas não me arrependo. Tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas
mais encantadoras desde que minhas lembranças se avivam.
Eu poderia te fazer a pessoa mais
feliz do mundo, se você quisesse. Poderia lhe proporcionar as alegrias que você
sempre sonhou; e iria além, até o limite indefinido das contendas que lhe
fariam jus. Lhe escreveria poemas, lhe comporia sinfonias, criaria desde a
semente as rosas que um dia pertencer-te-iam.
Daria meu suor para te ver feliz, sorrindo e radiante. Nada menos do que
aquilo que você merece.
No inicio falei sobre despedida, e, na
verdade, é sobre isso que se trata essa dissertação. Não hei de criar ilusões,
paradigmas ou me ater a contendas incertas. Seguirei meu caminho, apenas.
Em algum lugar, eu estarei
divagando por entre ruelas de velhas cidades históricas, brincando de escrever
sobre aquilo que vejo e sinto, sobre como os ventos ditam os rumos de nossas
vidas e sobre como o sol se põe mais cedo para alguns. Coisas da vida, apenas.
Até.”
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