1 de jul. de 2013

Cartas tristes

        Ela morava em algum prédio do centro histórico de Porto Alegre. O dia havia sido exaustivo, e imagens de um sofá confortável e alguns bons filmes idealizavam a definição perfeita de paraíso. Ela optou por não tomar banho, e sentou-se ao sofá, deixando que as tensões e estresses do cotidiano pudessem evaporar, deixando apenas a boa carcaça cansada estirada embaixo de grossos edredons. Mas algo chamou sua atenção: havia uma carta embaixo da porta, que ela provavelmente pisara ao entrar, sem ao menos notar. Ela estranhou, mas a abriu e, como o texto parecia longo, sentou-se para lê-lo.

A caligrafia, embora legível, era sensivelmente afetada por algum tipo de tremedeira; e, aparentemente, o texto devia ter sido escrito com esmero calculado. Acompanhavam os dizeres:

“Boa noite, moça. Ou bom dia, depende, nunca se sabe quando hão de lhe entregar esse papel ou quando você há de lê-lo. De qualquer maneira, venho me despedir.

Desde que a vi pela primeira vez - naquele ônibus, naqueles dias infernais de aulas inúteis, em meio àquele rebanho de rostos estranhos – que seu rosto diferia dos demais. Por meses a idealizei, até que finalmente pude lhe dirigir a palavra. Pode ter sido um erro; mas não me arrependo. Tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais encantadoras desde que minhas lembranças se avivam.

Eu poderia te fazer a pessoa mais feliz do mundo, se você quisesse. Poderia lhe proporcionar as alegrias que você sempre sonhou; e iria além, até o limite indefinido das contendas que lhe fariam jus. Lhe escreveria poemas, lhe comporia sinfonias, criaria desde a semente as rosas que um dia pertencer-te-iam.  Daria meu suor para te ver feliz, sorrindo e radiante. Nada menos do que aquilo que você merece.

No inicio falei sobre despedida, e, na verdade, é sobre isso que se trata essa dissertação. Não hei de criar ilusões, paradigmas ou me ater a contendas incertas. Seguirei meu caminho, apenas.

Em algum lugar, eu estarei divagando por entre ruelas de velhas cidades históricas, brincando de escrever sobre aquilo que vejo e sinto, sobre como os ventos ditam os rumos de nossas vidas e sobre como o sol se põe mais cedo para alguns. Coisas da vida, apenas.


Até.”

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