Sentir brotar novamente a paixão é algo muito hard, em
diversos aspectos. Talvez a influência mais notável desta situação irracional - a que nos submetemos procrastinadamente de tempos em tempos - seja na escrita
(partindo do pressuposto de que o indivíduo escreva por hobbie, o
que limita a abrangência dessa pseudo-crônica a 1/20 da população mundial,
senão menos).
Admiro os grandes poetas que, defronte à paixão, terminam
por produzir suas obras-primas. É para poucos a capacidade de canalizar um
sentimento de tal magnitude e o converter em arte magna. Então, aqui me refiro
aos escritores mundanos, que não verdadeiramente escrevem, mas sim mancham
folhas de celulose com suas palavras insípidas e monótonas.
De qualquer maneira, a paixão destrói nossa parca
capacidade literária. É fato. Sempre que nos apaixonamos, perdemos o senso do
ridículo, nos atemos a dissertar sobre o sentir, sem siso algum. Não nos
preocupamos com a empatia da obra, pois, na verdade, não nos preocupamos com
merda nenhuma. Deixamos que as palavras desandem em meio a folhas e folhas de
riminhas rasas e fofas. Não estamos concentrados na arte da literatura, estamos
concentrados no rosto de alguém. Não estamos preocupados com a musicalidade das
estrofes, com a métrica dos versos ou com a qualidade das rimas; pois nossa
mente divaga a relembrar - segundo após segundo - os trejeitos da Pessoa.
Escrevemos a esmo, como se fosse a cura do buraco que fica no nosso peito
quando nos afastamos fisicamente da Pessoa. Em contrapartida, quando estamos
juntos d’ela, esquecemos que um dia aprendemos a escrever. A paixão faz dessas
coisas. E, ao fim de tudo, quem sofre são as próprias palavras.
Antes elas do que nós. Que sejamos felizes,
enquanto elas definham como algum verso bonachão de música sertaneja.
E que elas definhem, pois isso é muito bom (Se
apaixonar, no caso. Meus pêsames às palavras versadas). Como diria algum
provérbio mundano dessa internet profana: “Viver sem frio na barriga não é
viver”.
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