Nunca antes postei aqui poesias que não fossem de minha autoria. Mas
faz-se exceção à melhor descrição já feita acerca dos viveres de um poeta. Talvez
uma das poesias mais geniais de F. Pessoa. Há quem discorde, mas acredito que
nunca antes, tanto quanto nunca mais, um poeta há de sentir-se tão bem
retratado.
O poeta é um fingidor.
E finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Nãos as duas que ele teve
Mas só a que eles não tem.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa, Lisboa, 1915.
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