"[..]Ele estava estupefato, tanto com sua beleza quanto pelo fato
de terem abandonado totalmente a rota. Aquilo era suficiente para lhe demitirem
por justa causa. O que aquela mulher poderia pedir?!
-M-Mas...
Isso é errado... Estamos fora da rota, o Coordenador vai ligar e... E... –Ela
estava com o dedo indicador sobre os lábios, sibilando baixinho.
-Você
se importa com isso tudo? Com seu emprego? Com o velho porco que lhe mandou e
desmandou por anos da sua vida infeliz? Não somos escravos de ninguém. Vem,
Marcos. –Ele levantou do banco, e Natália o puxou pela mão. Ela o conduziu gentilmente até o parapeito do mirante, e lá ficaram por alguns instantes,
fitando as luzes da cidade e o céu estrelado.
-Você
devia ter trazido seu piano, Marcos. Queria ouvir Chopin à luz dessas estrelas.
Era um dos meus sonhos, para ser sincera. Alguém tocasse para mim.-Ela apertou
a mão dele, se aproximando. –Alguém que me mostrasse o significado de viver.
A
confusão que tomara os pensamentos do pobre homem se tornou indescritível, mas,
ao toque das mãos, tudo passou, e agora sentia como se uma velha amante lhe
dirigisse os mais belos versos.
-Queria
poder tê-lo aqui, Natália. Você poderia, então, ouvir minha Tristeza. –Disse,
referindo-se ao 10º estudo para piano de Chopin.
-Seria
um sonho. Você não sente nada? Aqui, nessa situação.
-Eu...
Não sei. Não sei. –Repetiu, envergonhando-se por suas dificuldades de dicção.
Ela
virou o rosto de maneira a olha-lo nos olhos. Ele sentiu, então, algo novo. Uma
velha barreira, que sempre permeou seu viver, acabara de cair: podia se
expressar livremente, aquém das experiências traumáticas de outrora. Podia ser ele mesmo, podia lhe falar abertamente.
-Tu
estas comigo, Marcos. Estou aqui para te fazer vivo outra vez. Para te fazer
sorrir nesse mar de águas turvas que é o viver. –Ela desviou os olhos, passando
a observar os arranha-céus a quilômetros de distância. –Sei que você sempre
sentiu falta de algo.[...]"
(caso alguém queria ler o conto completo, contate-me)
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