27 de mai. de 2013

A poesia do poeta morto

Sem nada a fazer,
Sem nada a decidir,
Não pude descrever
O mais puro sentir.

Pois nada senti
Afora o desprazer
De nada decidir
E, assim, sofrer!

Confortando-me, morri;
Pois não pude lhe falar
Que nunca antes aprendi
As nuances do amar.

Continua-se, então,
Este eterno vestibular.
Questão por questão
Só me resta estudar.

Estudando como um zumbi,
Um dia hei de encontrar:
A definição do que senti -
E o significado desse tal “amar”.

26 de mai. de 2013

Novos ares


No ônibus, os mesmos rostos.
Por todo o lado, a triste burguesia.
Até o advento de novos ventos:
Fizeram brotar novamente a poesia.

Às tardes, um novo gosto.
Ao viver, nem imaginas:
Vento no rosto, vento disposto
Novos ares a novas rimas.

23 de mai. de 2013

I'd marry you

"I'd marry you, since the first time we talked
Since the first time i've seen you walkin' in your blue Low Sneakers
I'd marry you, I've said
Maybe not today,
Maybe any other day..."

22 de mai. de 2013

A Disco Ball


-“Quantas cores você enxerga no anteparo, aqui, após a cortina? Garoto.”-Disse a doutora, afastando o paninho que obscurecia a luminescência reflexiva da disco ball.
-“Preto e branco, doutora.”-Disse o jovem, lacônico e indiferente.
-“Você tem miopia, garoto.”
-“Mas... Eu costumava ver cores, há anos atrás.”-Replicou o jovem, ainda indiferente. Sua fisionomia era fraca; com olheiras fundas; e a pele, esbranquiçada, como se todo seu conjunto fosse resultado de uma maçante jornada intelectual forçada.
-“Eu também, garoto. Nossa doença? Somos suicidas. Todos nós, exceto alguns poucos reacionários que, conscientes desta degradação social irreversível, escapam das garras da frígida realidade a que somos dispostos."
A doutora sentou-se na mesinha ridiculamente pequena, passando a rabiscar a ficha do paciente atual, movimentando a caneta em gestos maquinários.
O garoto já tinha saído da sala. Na verdade, já saia do hospital. Já tinha ouvido o bastante. Estava morto, pois não podia ver cores.

4 de mai. de 2013

Amor de Engenheiro...


Ela é tão humana, eu, tão exato..
ela faz jornalismo, eu, engenharia;
ao vê-la, esqueço qualquer cálculo...
Me sinto Quintana, ao ver sua Cecília.
"Impossivel", dizem os errantes...
improvável, o maior dos absurdos
Que dois mundos tão distantes
possam, um dia, terminar juntos.
Terminam-se, então, as rimas...
isto é além da minha capacidade.
Restam-me equaçoes indecisas,
amor em cálculos de probabilidade.
Neste silêncio desconfortável
enuncio, então, a questão:
Você quer ser a variável
que falta na minha equação?