Lembro-me de estar deitado nos gramados ao redor da
Usina do Gasômetro. Sentia o afresco do Guaíba contra meu rosto, que somado a
uma das faixas de Andy Timmons, constituíam o palco ideal para passagens
poéticas.
Foi
quando a vi, alguns metros à minha frente, deitada na grama, assim como eu.
Dado meu pífio conhecimento de moda, não pude puxar da memória nada mais do que
um vestido preto, com um cinto demasiado grosso na cintura, e um dos ombros
expostos. Seu rosto, admito, não era angelical como as senhoras que permeiam as
trovas medievais, mas demonstrava personalidade definida. Talvez fosse ela a
alguém que tanto procurei.
Ela
levantou-se, assim como eu, para assistir ao tocar do sol na copa das árvores.
E, por um momento fugaz, observei-a nítida como um cacto recortado contra a
paisagem desértica. Talvez fosse ela.
Deparei-me
com meu amor descrito naquela situação: Palavras não ditas, músicas não
cantadas, versos não proclamados, sentimentos resguardados. Apenas minha
inércia contra a hipótese de um novo relacionamento.
Talvez
minha solidão tenha criado essa inércia, esse medo de errar outra vez, de
aumentar a potência da decepção na equação dos meus sentimentos.
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