3 de abr. de 2013

O que falta?


O que falta para todos serem felizes?

Falta mais corações se entregarem ao amor.
Falta mais desapego ao horário.
Falta mais desapego ao velho fervor
de viver-se em busca do salário... 

1 de abr. de 2013

Os Olhos do Poeta


            Tenho um amigo chamado Eduardo. Ele é um quase-poeta, amante verdadeiro da poesia. É o tipo de indivíduo que vê poesia nas coisas mundanas e insossas aos olhos dos passantes mundanos.
            Uma vez ele se apaixonou por uma “funkeira” arquetípica, Juliana; ou Ju, para os mais íntimos; ou até Ju Barte para os frequentadores dos mesmos ambientes da moça.
 Ela não inspirava nenhum Soneto de Fidelidade. Não inspirava nem mesmo um haicai pós-modernista. Usava roupas de liquidação, de número menor que seu manequim, possibilitando que alguns excessos se tornassem visíveis. Não que a vestimenta do indivíduo determine sua personalidade, mas, na grande maioria das vezes, dá indícios certeiros de suas nuances.
Lembro d’ele ter escrito um soneto à pretendida, que, dentro de suas possibilidades, ficou esplêndido. Versos decassílabos, perfeitamente métricos; e rimas ricas, quase parnasianas, só que objetivas.
Eram tempos obscuros. O Orkut reinava, e Eduardo dedicou a ode à sua paixão pelo meio que imperava no período: depoimento, ou “depô”.  A homenageada nunca o leu, pois achou cafona e “chato” ( termo comunmente empregado por trogloditas em face a algo novo, de beleza naturalmente complexa, ou seja, que exija esforço por parte da massa cinzenta).
Eduardo não se deixou abater, e continuou fielmente em sua contenda por meses a fio, tricotando sonetos cada vez mais complexos para exaltar sua paixão platônica.
Até ter seu coração partido.
Mas ele continuou poeta. Ainda vê poesia nos casais de pombas que compartilham a pipoca da senhora idosa, enquanto espera o ônibus. Ainda vê poesia no namoro das figueiras, em frente a sua casa. Ainda vê poesia na compaixão da tia Zilda, cobradora da linha Assis Brasil-Centro, que recebe todos os  passageiros indiferentes com seu sorriso largo e espontâneo. Ainda vê poesia no modo como sua avó sexagenária trata seu avô moribundo. Ainda vê poesia nos prédios antigos que vislumbra à janela do ônibus, no caminho para do trabalho, no centro de Porto Alegre. Ainda vê poesia na dança das luzes que ocorre diariamente nos engarrafamentos de fim de tarde, na Avenida Assis Brasil. Ainda vê poesia no modo como sua irmã caminha, passo por passo, como se cada nova pisada fosse uma conquista.
Ainda vê poesia nas coisas.
Ele vê essa poesia pois é apaixonado pela vida, aceitando sua perfeição natural, sem se apegar ao inalcançável; e sim apreciar aquilo que lhe é permitido apreciar.
Pois a poesia está nos olhos do apaixonado.